Correntes
Não adianta dizer adeus para aquilo que está correndo em seu sangue.
E não é preciso dizer adeus. É preciso permitir que a corrente sanguínea siga o curso dela, enquanto você segue o seu. Podem seguir paralelos, não necessariamente juntos, porém. No presente não possuímos o futuro tanto quanto é pouco sábio continuar fazendo repetições do passado. Assim, esta corrente sanguínea voluntariosa deve conter-se ao limite de suas veias, o que já é tanto, para que não nos enclausure aos dias passados ou nos contenha dos dias vindouros.
Quebrar esta casca, rasgar esta película, romper esta barreira, partir esta redoma. Não importa o rito, desde que se siga.
É certo que à ruptura, escorrerão fluidos semelhantes ao desmanche de sua própria pele. À qual se lhe assistirá misturar aos detritos do caminho - às flores, às pedras, ao ar, - e modificar-se em si mesma.
Não é preciso saber em quê se transformará. Se, em algo completamente novo, ou se meramente uma versão diferente do que um dia foi. Não caminhe os caminhos antes do caminhar. Não continue caminhos que já antes transformaram-se diante de certa curva na estrada. Possua-se todo nas perguntas que lhe questionam a mente sem tentar transformá-las em respostas prematuras e imaturas. Desconfie da mente, contudo. Ela lhe impele a rotas próprias e estas, talvez, não sejam as tuas. Tenha fé em si - em seus mecanismos não-racionais todos - e em suas dúvidas companheiras. Não lhes seja hostil, pois delas, com sorte, brotarão belezas invisíveis no agora. Abrace-as como recém-chegados visitantes cuja aparência é possível enxergar tanto quanto o conteúdo é impossível conhecer. Por hora.
A exigência da coragem urge escolhas de maior bravura, onde residem todas as consequências de qualquer escolha. Até a sabedoria de acolher aquilo que não nos cabe fazer. De aceitar. De usar lamúrias como trampolins, ainda que não se possa antever o pouso. Seja ativo em suas inseguranças, compreende?
- disse-lhe aquela sua voz.
.
Comentários
Postar um comentário
Deixe o seu olhar