A via-láctea

Há longas caminhadas plantadas na raiz deste "para sempre" que eu procuro. Desejo de tornar os dias permanentemente em pedaços de eternidade: sorrisos e verdades que não apagam. Força e beleza que não fraqueja. Saúde, para o corpo, para a mente, para a alma.
Não são sonhos irreais. Não são realidades pouco prováveis. Há pouca ambição nestas expectativas. Há uma calma que tudo permeia. Algumas raras decisões e um punhado de amenidades neste entretanto.
A negligência constante de quem ainda não pôde dar conta de todas as faces que mostra a vida. Se cuido do trabalho, sobram as angústias da alma. Se cuido dos amores, deixo de lado as práticas da evolução, e assim segue. Tive sempre este problema de organização. O tempo me domina muito mais do que eu a ele. Não sou líder, sou subordinada. Assoberbada com a rapidez que exige esta corrida. Por isso é que nos momentos de serenidade apenas passeio. E é este o estado mental onde minha costumeira e desconcertada agitação interior mais se resolve e se encontra. Se enxerga.
Eu deveria meditar. Tomar um desses coquetéis alucinógenos, para que, o quê está oculto, se revelasse. Mas talvez em nem quisesse saber, o oculto tem suas razões para ser. Como uma luz muito brilhante e muito forte, que cegasse se eu a pudesse ver.
Queria mesmo era ser onipresente de mim. Não perder nenhuma das dimensões que se escondem dentro de cada dia, de cada uma das vidas paralelas que vão acontecendo, enquanto tento escolher na presença de qual delas quererei estar.
Banhei-me no mar que lava tudo com suas ondas de águas salgadas. É gostoso a beleza das conchas que ele deixa, mesmo quando elas machucam os pés.
Quando acordo, no horizonte da manhã tem um texto escrito que eu, sempre, ainda não li. Tem pegadas pisadas na areia e pegadas pisadas no cimento, e o cimento é muito menos encantador do que a areia. Mas é ele que segura em pé as paredes, os quartos de dormir, os banheiros de se lavar e as cozinhas onde se come o pão e se cobiça a carne.
Depois que a noite silencia os barulhos do dia, fica mais fácil ouvir pensamentos e enxergar estrelas. E como são bonitas as noites que antecedem o verão! São pequenas promessas e grandes lembretes de toda a vivacidade que desperta a estação.
Tinha abrigo. Agora, o que faltava era trocar de pontos: o de exclamação pelo de interrogação. Mas eu continuava sabendo, mesmo que este conhecimento fosse uma maldição, que frases eram muito mais interessantes quando não trocavam a pontuação: quando os dois pontos me servissem à construção.
Sempre a mais ingênua, fazendo-me passar por pele de loba. Era essa eu. A vidraça. E ser pedra eu tentava, todo dia. Mas só podia me lançar no mundo, mesmo que os meus planetas gravitassem em outra órbita. E eu grávida, para parir um bendito fruto, doce.

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Comentários

  1. "Sempre a mais ingênua, fazendo-me passar por pele de loba. Era essa eu. A vidraça. E ser pedra eu tentava, todo dia. Mas só podia me lançar no mundo, mesmo que os meus planetas gravitassem em outra órbita."
    Sempre lindas as suas palavras...

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  2. Querida,
    Gostei de tudo aqui, cada palavra, cada vírgula e ponto.
    Inclusive do horário do post que bateu certinho com energia desse momento.
    Caminhadas de alegria sempre pra vc!
    Beijos!

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  3. Ah, te achei aqui de volta! Como sempre, fico sem palavras depois de ler seus textos. Mas enfim, passei por aqui, tá? E gostei de ler você novamente! Bjs

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