Freak



Tenho achado tudo muito estranho. A vida e todas essas coisas que fazem parte dela.
Venho me achando perecível demais, passageira demais, superficial demais, desimportante demais. Uma molécula, uma gota, uma grão. Assistindo coisas grandes serem feitas pequenas e pontes de eternidade, serem transformadas em pó.
Descubro que não importa que esteja tudo errado. Apenas importa que tudo esteja onde deveria estar. Sim, não faz sentido. Mas tampouco o faço, hoje, eu.
Para que se morra, basta estar vivo, é o dito. Simplista que pareça, faz a teoria fiel à prática: para que se sinta morto, morrido ou matado, basta sim, que se esteja entregue ao viver.
Venho descobrindo quantas outras verdades se tornam simplistas também. Não por escolha, ou descaso, ou falta de opção. Pela vida, simplesmente. Foi isso o que aconteceu... foi a vida que veio e me carregou com ela .
[Ventos que me navegam, enquanto ondas assobiam nas palmas das minhas mãos.]
Tenho achado os lugares muito estranhos, as pessoas muito estranhas, as horas do dia muito estranhas, o despertador muito estranho, meu reflexo no espelho muito estranho, os bichos de pelúcia muito estranhos, as máquinas digitais muito estranhas, as estradas muito estranhas, as pizzas muito estranhas, os cafés, as lojas, os sorrisos, as músicas, os dvds, os pijamas, os livros, as frases feitas, as datas comemorativas, os óculos, as roupas, os tênis, os domingos, os esmaltes, os móveis, as bebidas, os carros, os ingressos, os terços, os picolés, os telefonemas, os abraços. Muito, muito estranhos.
Da bolha onde eu vivia, não se enxergavam as manchetes do dia. Depois do estouro da bolha, veio o coma induzido para sustentar as baixas funções vitais da aura.
Tenho visto que de absoluto, só existe a relatividade das idéias absurdas. É a nova ordem mundial: o absurdismo.
E eu que me achava tão estranha, despenquei para o 956 º lugar do ranking. Sou apenas um ligeiro espanto, nada comparado ao absurdismo agora vigente no mundo. Nem sei bem o que pensar desse mundo, tenho com ele um relacionamento meramente platônico. Não me surpreenderia se os peixes se sentassem às mesas dos happy-hours e as pessoas se acotovelassem nos aquários sujos.
Nunca fui das mais íntimas da normalidade, mas por ela, hoje, faria todas aquelas coisas tão absurdas quanto desejar todo dia a mesma mulher.


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Comentários

  1. Um turbilhão de pensamentos me invadem e... é estranho comentar tb.
    E sou otimista em dizer que, por mais estranho e absurdo que seja, esse mundo vale à pena.
    Bjo minha Querida!

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