Equinócio de Outono
Começos e finais se parecem numa característica curiosa: chegam com silêncio dentro do peito. O silêncio da expectativa de não saber. Não saber como sair dali, nos finais, e não saber como ir adiante, nos começos. Ambos deixam a interrogação sobre como alcançar o estágio seguinte. A respiração fica estranhamente calma, pois há algo que não nos pertence, seja em situações que escolhemos, seja em situações que nos escolhem. É um recolhimento involuntário e absolutamente preciso - necessário e exato. Somos tragados, desavisadamente.Sacudidos, nos lançamos um breve olhar auto-condescendente antes de aprender a nos olhar de um outro jeito.
Depois de ter início um começo, ou um final, tem início um silêncio interno. Mesmo fora acontecendo tudo ao mesmo tempo agora, a alma, com dedo indicador sobre os lábios, pede: shhhhhhh! Os pensamentos ficam longe, incertos, hesitantes. Não arriscam palpites assertivos, pois mergulham em águas desconhecidas e se ocupam de atravessar oceanos lentamente, subindo ocasionalmente à tona para um respirar menos turvo.
Só se escuta o tic-tac de um relógio de lógica própria. Só se veste aquela roupa pela qual todos nos conhecem, com nosso rosto e contornos, para continuar convivendo como se espera. A expectativa do mundo é muito importante nesses momentos, para o mundo. E o mundo no qual habitamos dentro, segue indiferente à balbúrdia da dimensão paralela que acontece fora.
Começos e finais - quase a mesma realidade, já que finais são novos começos, e começos, portas destrancadas depois dos finais - são eventos. Eventos não marcados de vermelho no calendário. Eventos que não viram feriados. Eventos que não se anuncia na tevê. Eventos translúcidos, aerados, gelatinosos, particulares. São íntimos desconhecidos que nos beijam enquanto dormimos, deixando apenas um vestígio de saliva morna no amanhecer outonal. Sensação de sonho, mas quando saímos da cama, o mundo nos olha diferente, e é este o momento onde, inevitavelmente, temos a certeza de que algo intocado, realmente, mudou.
Amiga, esse texto é mais um daqueles que eu salvo pra voltar a ler sempre. Sabia que tenho uma pastinha só com textos seus? rs
ResponderExcluirQue seu olhar aguçado e sua intimidade com as palavras nos tragam muitos desses textos, lindona!
Ótima semana pra tu!!
De onde será que vem tanta inspiração?!
ResponderExcluirQue lindo, Bia! E muito preciso, dentro da imprecisão do tema.
ResponderExcluirBeijos e um domingo muito gostoso pra você.
Tudo muda o tempo todo, é a ligurgia do tempo se expressando. Meu beijo.
ResponderExcluir