Vicky Cristina Barcelona
Tem momentos em que eu me pergunto como é que as pessoas sobreviviam antes do Cinema.
O que poderia substituir este abrir de olhos e de alma, este afago nos sentidos, esta inspiração que guia as vísceras, este sonhar profundo e acordado, esta oportunidade de rever nossas próprias vidas e acalentar nossos próprios desejos em frente a uma tela.
Claro que há quem vá ao cinema buscando mero entretenimento. O que, aliás, o Cinema faz muito, muito bem. Mas eu vou ao cinema buscando algo mais. Também o entretenimento, porém, esperando que venha acompanhado de uma luz, uma lágrima, um riso, uma inquietação, um pulsar . Vou me conhecer, me completar, me questionar, me seduzir, me libertar.
Me perco, me encontro, me assombro vezes sem conta diante da mágica tela grande - ou da pequena. Tem cenas que são como um verdadeiro sinal dos céus. "Ok, você está indo bem", parecem dizer. Ou "Veja que não era nada daquilo", vêm me esfregar na cara.
Fiz esta viagem outra vez, ao me apresentar para o filme mais recente de Woody Allen. "Vicky Cristina Barcelona" foi a surpresa feliz e esperada , melhor do que a encomenda, para carregar de boas energias a semana. Desde o trailler, eu vinha me apaixonando. Sabia que ele não me decepcionaria, que não faria o meu encanto platônico se transformar em frustração.
É fascinante a forma como o Cinema, assim como todas as outras artes, pode despertar interpretações e sensações completamente opostas ou contraditórias em cada interlocutor. Os críticos são os melhores exemplos disto. Houve quem o detestasse e quem o adorasse e, francamente, se conselho for bom, não siga os críticos nunca. Tire sempre as suas próprias conclusões.
Naturalmente, o crítico que detestou me deixou a sensação de que talvez tenha assistido a uma outra obra qualquer... Compreendi o que ele quis dizer, mas... será que ele entendeu o filme? Ele certamente diria que eu é que não entendo nada de Cinema, e teria toda razão. Eu apenas aprecio. "Aceito o que é bom", como dito muito bem em outra bela surpresa cinematográfica que tive, Coisas que Perdemos pelo Caminho.
O fato da história de Vicky Cristina se passar em Barcelona, para mim já seriam dois terços do caminho andado para aprovar este momento quase almodovariano de Allen. Sou suspeita, eu sei. Mas como poderia ser isenta nas minhas próprias emoções? A fotografia é um charme extra e determinante.
A trilha sonora, temperada de violão flamenco aqui e ali, foi um golpe baixíssimo. Covardia fazer a pessoa transitar por aqueles lugares ouvindo a esta música.
A escolha do elenco, precisa e envolvente . Destaque para a certinha-que-não-quer-ser-tão-certinha-assim, Rebeca Hall, e, especialmente, para a louca-que-de-louca-não-tem-nada, Penélope Cruz.
O que acontece, é que duas amigas norte-americanas viajam à Barcelona para passar o verão, cada uma por seus próprios motivos. Vicky, mais centrada e racional, vai em busca de aprofundar-se em seus estudos de mestrado sobre a cultura catalã. Cristina, impulsiva e despreocupada, vai em busca... da busca. Com a justificativa de mudar de ares. Claro, não é tão simples rotular as personagens assim, mas uma ou outra definição serve para as apresentações iniciais.
Verão pra cá, verão pra lá, e elas conhecem um charmoso pintor espanhol que as convida muito desinibidamente para um final de semana de bons passeios, boa comida e sexo. A três, de preferência. A partir daí, cada uma tem a reação condizente com a sua personalidade, e vão sendo apresentados os conflitos e delícias, muitas vezes cômicos, decorrentes deste encontro e seus desdobramentos inesperados.
É como na vida. A gente pode pagar para ver e colher frutos e consequências, ou nos refrear total ou parcialmente e imaginar depois como teria sido.
Diálogos renovadores, uma veia de comédia flutuante - sem que se possa, mesmo com ela, classificar o filme neste gênero - , personagens encantadoramente bem construídos e interpretados, (muita) inspiração contínua e um convite, subentendido, a se perguntar: o que faria eu ?
Woody Allen me surpreendeu. Aos 72 anos, como apontou a crítica da revista com a qual eu costumo não concordar, está se permitindo experimentar.
O Cinema, continua o mesmo. Passagem de ida para o deleite inesgotável de contar e ouvir nossas histórias humanas.
Doidinha pra ver, Bia! Sou fã do velho Allen.
ResponderExcluirDe volta da volta pelo nordeste lindo, matando a saudade dos amigos.
Beijo grande.
q seria a vida sem cinema! :)
ResponderExcluirO allen? enfim..não dos q mais aprecio..falo em termos d comédia.
Bom Blog!!
voltarei
Deu vontade de assistir!
ResponderExcluirBeijos!