Parênteses e Confusões

A minha vontade é escrever sobre tudo. São tantos os acontecimentos, sentimentos, desejos, poesias, lamentos, vidas que permeiam o mundo e o meu mundo, que parece impossível dar conta de tudo. Muitas vezes, a urgência de "dizer" algo fica martelando a mente, mas é difícil decidir para que lado ir. Nesses momentos, eu acabo não dizendo nada.
Assunto não falta, e eu tenho receio de dar corda (ainda mais) à tanta tristeza e desamor que se vê pelo mundo. Não me calo diante deste desequilíbrio assustador na raça humana, mas em muitas situações, emudeço.
O que dizer diante de gente de bem que perdeu preciosos amores, casa e sonhos, por causa da chuva que deveria fazer nascer?
O que dizer diante dos pais que assistiram a um dos assassinos (policial, diga-se de passagem. Policial! ) de seu filho de 3 anos ser absolvido, e condenado apenas por lesão corporal ? Lesão corporal??? Pelo amor de Deus!
O que dizer diante do torcedor (um de tantos) morto a tiro, novamente, por um policial, antes mesmo do início da esperada partida de futebol à qual fora assistir?
O que dizer da manada de estudantes (estudantes???) de medicina (que medo do nosso futuro) que, felizes por terem se livrado do pronto-socorro no qual concluíam seu curso, decidiram comemorar tamanha alegria com um arrastão nos corredores do hospital, com direito a rojões?
O que dizer da "celebração" dos 60 anos da declaração dos direitos humanos? E o que diriam seus redatores, diante do mundo de hoje?
E continua... e continua... e continua.
Tenho absoluta certeza de que os indignados, como eu, também se questionam, e sofrem, e tentam, em sua pequena esfera, contribuir de alguma maneira - mesmo que seja trazendo à tona sua indignação e sendo, eles mesmos, diferentes disto - para que este universo faça um pouco mais de sentido. Por isso talvez, pense ser desnecessário em algumas situações, tocar em assuntos que já estão pulsando freneticamente dentro de cada um.
Disse o psicanalista Jacques Lacan, que, se não tivéssemos certeza de nossa morte não suportaríamos a nossa vida. Teria razão?

Permito que meus olhos e meus pensamentos passeiem por outras paragens. Algumas mais fúteis ( há o consumismo do final do ano, que nada tem a ver com Natal, e sim, com o décimo terceiro salário e com as férias, que chegam na mesma época). Algumas mais belas (há o encanto dos dias aparentemente comuns, das pessoas que nos tocam a alma, das decobertas sem fim).
De busca em busca encontrei uma matéria de revista, que consistia em lançar a alguns homens "bacanas e inspirados" o desafio de escrever à uma mulher apaixonada um bilhete fictício, completando o pensamento "Se você está apaixonada por mim, nunca..." , dizendo o que ela deveria fazer, ou deixar de fazer para não estragar o romance, e o resultado foi pura poesia e deleite:

" Nunca prenda, cobre ou acue demais com palavras, gestos ou atos, especialmente um sagitariano..."
" Nunca me diga o que é seguro, o esperado, o bem-articulado, o futuro, o passado, o prometido, o cadeado ..."
" Nunca duvide de que sou louco pelo seu canino superior esquerdo, um pouco desalinhado em relação aos outros dentes. Confiança é um troço importante..."
" Nunca se apavore, vá até o fim, o medo é o pior dos nossos ancestrais, é hora de reler Vinícius de Moraes..."
" Seja altiva. Sua altivez a faz elegante, consciente do mundo que a rodeia. Meu desejo há de ser proporcional à sua altura. (...) Sorria com simpatia. Teus dentes fortes, prontos para morder no caso de alguém lhe fazer mal, mostram-se em seu sorriso franco..."
" Quando eu estiver louco, subitamente se afaste. Quando eu estiver fogo, suavemente se encaixe, e quando eu estiver bobo, sutilmente disfarce..."
E por fim, " Nunca deixe de se apaixonar, primeiro, por você."
O mundo vai girando cada vez mais veloz, e eu vejo com um olho o bem, e com o outro, o mal.
Num intervalo, para o desafio da revista, eu diria um pouco de todas as respostas anteriores. E mais, se você está apaixonado por mim, fique enquanto a sua paixão permitir, não me fira intencionalmente e faça, comigo, de nossa vida, um encontro de iguais (obrigada Cris, pela inspiração!). Iguais no sentimento, iguais na crença de estar no mundo por algo maior, iguais na procura das respostas que nunca serão encontradas, iguais na defesa permanente das individualidades, iguais na fé intocável na magia, iguais na honestidade crua, iguais no desejo de libertar.
E você, neste intervalo da insanidade, o que diria?

Comentários

  1. lindo post.Percepçoes claras e sensíveis.O último e penúltimo desafio do se estar apaixonada(o).O mundo ainda vle apena(e concordo com Lacan),mas... por corrermos o risco de crer que ha almas boas que vale os risco da existencia,ficamos mais tempo.Felicidades,Bia.

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  2. A ignorância é vizinha da maldade. Na verdade a maldade é o fruto da ignorância.

    Um dia todos saberão. E a extinção da maldade se dará por consequência. Naturalmente.

    A bondade é a filha mais bela da sabedoria.

    ...

    Se você está apaixonada por mim, nunca... Desista. E esteja sempre apaixonada. Pela vida. E por você mesma.

    Beijo, flor mais linda e rara.

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  3. Por falar em ignorância (Vanderlei Martinelli) melhor seria ignorar tantos acontecimentos bárbaros que nos rodeiam, e viver na ilusão de um mundo que se resume à solidariedade humana (como temos visto em prol de Sta Catarina), à ingenuidade e à maravilha dos bebês (que vejo a todo instante na Elisa), à felicidade de um amor bem vivido... e a tudo de bom que podemos imaginar. Pelo menos hoje, vai, que é sexta-feira...

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  4. Quando a insanidade é assim tão bonita, compensa um pouco os desacertos da existência ;)
    Um Natal bem feliz e ano que vem só de alegrias!
    Beijo.

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  5. Qto à insanidade...
    "Neste mundo paranóico só os loucos sobrevivem!"

    E às tragédias... continuemos vibrando por um mundo melhor!
    Bjs!!

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