Feng Shui para Mim

A senhora na tevê falava sobre feng shui. Sobre como a casa vibra, ri e chora, com as pessoas e se renova quando objetos e móveis são trocados por outros ou mudados de lugar, e quando chegam novas plantas e flores no ambiente. Sobre a necessidade de sair com o velho, o inútil, o quebrado. A necessidade de trazer o novo, o útil, o inteiro. Sobre a importância de substituir pertences que remetam à lembranças ruins por aqueles que trazem alegria. Tirar a poeira, trazer a mudança. Enfim, fazer a casa respirar.

Os finais de ano de celebrações fazem, também, isso. Mas de uma outra forma.

Enchem a casa de gente, de vozes, de abraços. O ambiente normalmente organizado e impregnado das personalidades cotidianas, vira outro. Uma bagunça alegre , cutucando o espírito de "cada coisa no seu devido lugar" e mostrando, sutilmente, que aquilo tudo se trata de outros valores, e que são as bagunças felizes as criadoras de motivos para celebrar.

O inimaginável diário, vira possível. O incomum, vira breve rotina. Pessoas chegam, pessoas vão, pessoas ficam - pessoas de sempre e de nunca - , e pequenas luzes se sucedem. O universo interno agora é outro, e vibra satisfeito com a vida que lhe preenche.

Uma amiga contava sobre seu aprendizado quanto à baixar as expectativas diante das pessoas. Um amigo trazia, de encontro, um belo texto ensinando a não fazer do coração um objeto de barganha, e a doar-se sem esperar alguma retribuição.

De alguma maneira, estes pequenos sinais beija-flores se juntaram entre si, e tudo virou um todo para carregar o novo ano menino.

Na casa de pessoas que, como eu, chegavam ou saíam, tudo foi uma surpresa. Com expectativas baixas e amorosas, o inesperado mostrou-se infinitamente melhor. Cada abraço, foi um laço. E a fita era belo cetim perolado. Cada encontro, um respiro para o final. Do ano, que fique certo. Para o plantio de novas sementes, não há coisa tal como o fim.